Para quê
fomos chamados?
A vida é
feita de parâmetros, paradigmas, princípios. Todos nós temos isso incutido na
nossa mente e é por esses parâmetros que analisamos situações, pessoas,
lugares, escolhas e tomamos nossas decisões. Por mais que sejamos emocionais,
voláteis, ainda que sejamos muitas vezes irracionais, no final das contas, são
nossos princípios, sejam eles certos ou errados, que determinarão nossas
atitudes, anseios, alvos, projetos.
Isso
depende de vários fatores, mas geralmente nossos princípios são criados por
educação, seja pelos pais, avós, tios, pelo ensino, e por experiências
marcantes, acontecimentos que acabam servindo de exemplo até o fim de nossas
vidas. Se temos medo de altura é por que provavelmente passamos por maus
bocados por causa de altura. Se somos propensos a timidez ou a autoestima
elevada, provavelmente ela foi criada na nossa infância, por nossos parentes e
amigos.
Isso não é
o nosso caráter, mas é por nossos princípios que manifestamos que somos.
Caráter é algo mais profundo, envolve todos os princípios e ainda adiciona as
coisas que aprendemos durante a nossa vida. Por isso podemos dizer que uma
pessoa pode sim mudar de caráter, ainda que muitos princípios possam
permanecer. Uma pessoa tímida por se tornar uma pessoa desenvolta, ativa, mas
muitas vezes ela deixa resquícios dessa timidez, muitas vezes enclausurando
seus pensamentos e sentimentos em si mesma.
Eu não sou
a favor do uso da psicologia nos púlpitos, para pregar, para ensinar, e até
mesmo para explicar certas passagens. Isso é querer colocar oceano num copo
d’água. Mas fui obrigado a usar da psicologia para aprofundar um pouco o tópico
acima, porque no final das coisas, muitas vezes não compreendemos porque
tomamos certas atitudes contrárias ao senso lógico. Achamos que tudo envolve
diabo, demônios, trabalhos de macumba, e acabamos por demonizar nossa própria
natureza, o que acho pior. Defendo a psicologia até certo ponto, mas no momento
que ela procura explicar o sobrenatural, atribuindo tudo ao organismo, ao nosso
cérebro, desacreditando que o mundo sobrenatural está acima disso, e tenta
substituir princípios bíblicos por frases motivacionais ou regressões, creio
que estamos trocando a justiça de Deus, Cristo, por nossos trapos de imundícia.
Então chego
ao ponto que queria: há muitas, muitas pessoas mesmo que tentam usar seus
princípios, paradigmas, para justificar seu chamado. Pessoas que veem no seu
modo de pensar, de agir, de planejar, como algo que caminha lado a lado com a
vontade de Deus, dizendo que Deus o salvou porque ela é assim ou assado. Acham
que sua intrepidez, astucia, visão, coragem, capacidade de liderar, são usados
por Deus da maneira que eles acham melhor. Estamos reduzindo o evangelho, que é
poder de Deus, a pessoas com suas capacidades humanas e mentes humanas tentando
fazer o sobrenatural que só Deus pode fazer.
Eu não
estou dizendo que Deus não usa nosso potencial e conhecimento, experiência e
sabedoria. Olhe para Paulo (Filipenses 3: 4 a 6). A questão é quando tentamos
usar nossos princípios mundanos, humanos, carnais, para caminhar na vida
cristã. Usar meios e artifícios escusos (tenho que falar de cd pirata, baixar
coisas proibidas por direitos autorais), mesmo que por motivos espirituais, é
deitar vinho novo em remendo velho (Mateus 9:17).
São pequenas
coisas que mancham nossa caminhada e podem, com o tempo, se tornarem brechas
para erros ainda maiores. Mas o maior erro é viver a vida cristã com um foco
natural. Estou falando daqueles que resumem sua vida espiritual a ministérios. Oram porque pregam, cantam,
lideram, ensinam, fazem coisas. Quando resumimos o evangelho aos nossos propósitos
pessoais, ainda que estes sejam espirituais, acabamos, aos poucos, perdendo a
visão central.
No livro
Samuel está descrito um cenário terrível: Eli, sacerdote, estava com os olhos
já obscurecidos e quase não enxergava. Ele não via as maldades de seus filhos,
e já não tinha vigor e visão para corrigi-los. Ele era um sacerdote carnal, que
já conhecera a Deus, mas já não o ouvia, tanto é que Samuel é que ouviu a voz
de Deus (I Samuel 3). Quando fazemos da obra de Deus simplesmente um serviço,
resumindo o ministério a ações e resultados, perdemos a visão espiritual, e
passamos a viver da visão de outros. E pior, passamos a não enxergar o pecado
que de perto nos rodeia (Hebreus 12: 1).
Então, qual
é visão central do evangelho? Deus nos chamou em Cristo para que?
Em João 3: 16 está escrito um dos
versículos mais conhecidos da bíblia, senão, o maior deles. Há todo um peso
porque foram palavras do próprio Jesus, e não uma interpretação bíblica de
apóstolos, nem uma profecia, e nem uma promessa; é uma afirmação divina. Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu
filho unigênito, para que todo aquele crê não pereça mais tenha vida eterna.
Deus nos chamou para a vida
eterna. Mas isso não significa que esse objetivo só vai se iniciar quando
formos para a Nova Jerusalém. Cristo definiu o que é vida eterna:
“E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” João 17: 3.
Fomos chamados
para conhecer a Deus por intermédio de Cristo (Mateus 11: 27). É em Cristo que
habita toda a plenitude de Deus (Colossense 1: 19, 2: 9).
Vejamos o
que Paulo fala na Carta aos Efésios 3, a partir do verso 17:
“Para que Cristo habite, pela fé, em
vossos corações, afim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes
perfeitamente compreender com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento,
e a altura, e a profundidade. E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o
entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus”.
Nossa vida,
nossa fé, nosso ministério não é nada comparado com a promessa de termos a
plenitude do conhecimento de Deus por meio de Cristo (Efésios 1: 17 a 23). Precisamos
entender que se nossa vida não for moldada diariamente por Cristo (Lucas 9:23)
corremos o grande risco de salvarmos a muitos e perder a nossa salvação (Marcos
8:36).
Talvez você
esteja cansado, e sente que tudo o que tem feito parece não ser esperado ante
ao esforço aplicado. Sim, você não está sozinho; todo crente sente esse peso.
Mas precisamos ter em mente que temos todos os dias a oportunidade de levar
todo esse cansaço a Jesus. Ele nos prometeu que nos aliviaria desta carga, mas
se quiséssemos prosseguir, precisaríamos aprender dele (Mateus 11: 28 e 29).
Que nossa
vida não se resuma a ministérios e projetos, mas que nosso paradigma seja a
conformação da nossa vida a imagem e semelhança de Cristo.
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